quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Como meus professores me ensinaram a ser professor

Esse é o título de uma produção que tive que fazer para o meu curso. A proposta era que pensássemos em como nossos professores influenciaram a escolha da profissão. Segue o texto:



Minha primeira memória com relação aos professores que tive data os idos dos anos 80, quando eu ainda estava no pré. Eu freqüentava a escola desde os dois anos de idade, mas não tenho recordações dessa época. No entanto, me lembro perfeitamente do primeiro dia do pré, eu estava muito ansiosa, e minha professora me pediu que fosse à lousa, escrever meu nome. Fui até o quadro, e dei o meu melhor, com muito cuidado, escrevi meu nome. A professora disse que eu poderia me sentar, e quando eu o fiz, ela me bombardeou com a seguinte afirmação:
- Você escreve espelhado.
Eu não podia entender o que era aquilo, mas pela cara da professora, entendi que não podia ser bom. Ela me chamou à lousa e me manteve lá por o que pareceu para mim uma eternidade. Explicou-me que o desenho do meu nome estava errado e que ela iria me ensinar o correto. Tenho a impressão que este episódio foi determinante para minha baixa auto-estima e minha insegurança quando se trata de assuntos acadêmicos, posto que me lembre dele como se tivesse sido ontem. Claro que muito provavelmente com algumas distorções que a minha estória de vida possa ter provocado.
Minhas lembranças seguintes são mais difusas, menos específicas. Estudei em um colégio de freiras, e me lembro de um grande carinho por cada uma das minhas professoras, tia Auxiliadora (um nome sugestivo para uma professora, não é mesmo?). Lembro-me também de um professor Brasílio, de Educação Física, sempre achei o nome muito curioso.
Com a mudança para Santa Cruz, fui para uma escola pública, considerada de ótima qualidade. Realmente até hoje, é uma das melhores escolas de nossa região. Lembro-me da professora da quinta série, que começava todas as aulas com exercícios para os braços e o pescoço. Ela era mãe da minha tia, e me tratava excepcionalmente bem, talvez pelo vínculo. Lembro-me do professor de Matemática, que às vezes se utilizava de músicas para nos ensinar. Lá na Floresta, vive um passarinho, que mui contente vive cantando sempre... Ele era o máximo. Não tenho muitas outras lembranças deste período, parece-me que estava mais preocupada em integrar-me aos grupinhos de amigos que existiam na escola.
No Ensino Médio, tive professores bárbaros, em uma escola particular. Adorava as aulas da professora de português, e os textos, as regras gramaticais. Tudo fazia muito sentido para mim. Inglês era comigo mesmo, mas as professoras, com exceção da dona Nilda, não ajudavam muito. Meus professores da área de exatas me ensinaram como é importante paciência e compreensão dos limites de seus alunos.
No exterior, tive contato com outro tipo de professores. Aqueles mais frios, distantes, que se limitavam a ensinar o conteúdo. Todos na escola sabiam que eu era uma estrangeira, mas posso contar nos dedos de uma mão quantos deles me perguntaram sobre meu país natal ou sobre como era viver no exterior. Simplesmente não se importavam.
Já na faculdade, ahhh a faculdade! Essa sem dúvida foi a melhor época da minha vida em todos os âmbitos. Os professores da Unesp de Bauru foram os que realmente me provocaram mudanças. Sempre muito acessíveis, de fácil trato. Companheiros mesmo no meu processo de aprendizagem. Dedicados, motivadores, provocadores.
Não posso falar deles sem uma pontinha de nostalgia e sem me emocionar. Jair Lopes, com suas explicações longuíssimas e supostamente lógicas sobre a Psicologia da Motivação. Ensinou-me a perseverar e perdeu (e ganhei) horas e horas me ensinando aquilo que para mim parecia impossível compreender. Sandro, que ensinava Etologia, gostava de louva-deuses e quando dava de imitá-los na sala, era hilário. Ensinou-me que meu corpo fala por mim, e que é sempre necessário estar atento às suas mensagens. Amauri, que era o professor de patologia, dizia sempre que eu me tornaria uma educadora pela facilidade com que eu conseguia transmitir aquilo que aprendia. Maria da Glória, minha professora de didática, que me ensinou, através da sua forma de agir em sala de aula, como não ser uma professora. Ari, que passou semanas tentando me ensinar a concepção de homem concreto de Marx e de trabalho alienado de Leontiev. Ensinou-me a importância de tentar sempre mais uma vez. E por fim, Ângelo, Marisa e Elenita. Os responsáveis pela minha inclinação à área da educação. Esses três, meus professores de Psicologia da Educação e Orientação Profissional, mudaram meu modo de ver o mundo. Brincaram com todas as minhas convicções fracas, de modo a destruí-las e me ajudaram a reerguê-las, baseando-se na verdade, no conhecimento e na ciência.
Escrever este texto me causou um grande sentimento de nostalgia, uma saudade imensa dessas pessoas tão queridas, e fez-me sentir injusta com aqueles não citados aqui. Devo meu caminho tal como está trilhado a essas pessoas maravilhosas, que de uma forma ou de outra, ensinaram-me o que é ser professor.

FOR YOUR BABIES



Essa musica me traz tantas recordações da minha bem vivida adolescência que, quando a ouço, tenho a impressão que meu peito vai explodir de emoção. Me lembro da inocência da época, das paixões puras e desinteressadas, das amizades sinceras, da honestidade dos olhares. Lembro-me de como foi acreditar, por um período que fosse, que a vida seria perfeita, que o príncipe chegaria em um cavalo branco, que as amizades durariam para sempre, que as pessoas que me rodeavam seriam sempre perfeitas... Lembro-me das voltas incessantes na avenida, das domingueiras no Ica, dos carnavais de muita folia, do cheiro de material escolar recém comprado, das cartas que escrevia e recebia, dos bilhetes em sala de aula, dos verões no ginásio vendo os jogos santacruzenses, de fumar escondido, matar aula pra ir na pracinha, das enquetes que vinham em cadernos e sempre acabavam com a pergunta: o que você acha da dona desse caderno?, das letras de músicas internacionais em folhas do Fisk, batalhadas com muito esforço por que eu não era aluna, de amigos que se foram para sempre, mas deixaram sua marca em minha existência, do coração batendo ao toque da mão desejada, do sabor do beijo por tanto tempo ansiado, dos bailinhos em casa de amigos, quando a vassoura se divertia rodando de mão em mão durante a canção, das bicotas roubadas, dos planos para o futuro, da banda Chegad´s, das vizinhas inseparáveis, dos dramas dos amores não correspondidos, da felicidade ensaiada... Tenho comigo uma certeza de que tudo isso ainda existe a medida em que nos lembramos disso. Há momentos em que me pego pensando nesses tempos e são nesses momentos que tenho uma vontade incontrolável de ligar para cada um de meus amigos daquela época e dizer que ainda penso neles, que sim, me lembro do que vivemos e essas lembranças me inundam de nostalgia às vezes... De dizer que ainda tenho suas cartas (sim, Ju, Patrícia, Silvinha, e Elaine, as do futuro também, me mato de rir com nossas previsões), que quando tenho um tempinho dou uma olhada nelas e me lembro de tudo aquilo... Thelma, o seu número de cartas supera o de todas as outras.

Enfim, a saudade só existe quando vivemos algo intensamente. E faz bem ao coração relembrar, é bom visitar o passado para recordar como nos tornamos quem somos hoje.