segunda-feira, 20 de outubro de 2008

JOVENS BRILHANTES

Estive hoje assistindo a conferências elaboradas por meus alunos, a respeito da influência da mídia no modo de vida da sociedade. Cada um dos grupos ficou responsável por fazer essa análise em um determinado período de tempo. Fantástico o que adolescentes bem orientados podem produzir e aprender.
Falaram sobre diversos assuntos. Surgiu de tudo um pouco: globalização, comportamento adolescente, padrões de beleza estabelecidos pelas modelos, etc etc e tal. Lembrando que são alunos de quinze a dezessete anos.
Tenho a impressão que a única coisa que me interessava mesmo nessa idade eram algumas bandas de rock, trangredir normas estabelecidas pelos meus pais (pelo simples prazer da transgressão) e bater papo com minhas amigas. Não me lembro de termos discussões tão profundas em sala de aula.
Tenho que confessar que por vezes me esqueço que eles são tão novos. Falavam dos assuntos abordados com uma propriedade, demonstrando o quanto se esforçaram para realizar a conferência.
É gratificante assistir a seu crescimento pessoal, e observar seus rostos atentos e suas opiniões (muito bem elaboradas para a idade). Esse ano, me arrisquei pra valer com eles. Como ensino espanhol, passei um filme que exalta o Che Guevara, revelando-o uma pessoa pura e cheia de heroísmos (Diários de Motocicleta), e um documentário (Che: Anatomía de un Mito) revelando uma outra faceta do herói através de depoimentos de pessoas que lutaram com ele. Um tanto chocante para quem estava habituado à imagem de santo, mas muito convincente e eficiente no sentido de revelar que Che não era nada mais que um homem, com defeitos e virtudes.
Engraçado foi que em momento nenhum eu disse isso. Comecei todas as atividades relativas ao mito dizendo que meu objetivo não era, de maneira alguma, incutir-lhes o tipo de pessoa que ele foi, somente apresentar evidências de ambas as vertentes. Aquela que o idolatra, e aquela que o odeia.
Os resultados foram excepcionais. No fechamento do tema, a maioria dos alunos concluiu por si só aquilo que era meu objetivo mostrar. Que ele era um homem como tantos outros, hora "bom" e hora "mau". Que a história nem sempre é sincera. Que a midia articula para criar ícones, e as pessoas "compram" as idéias.
Meu trabalho não é fácil. Ele exige dedicação, esforço, estudo e muita, mas muita pesquisa mesmo. Mas ele me faz crescer, e meu pagamento está quando vejo meus alunos com os olhos estalados, escutando o que eu tenho a dizer. Quando percebo que o tema escolhido foi bem aceito, e eles sentem prazer em trabalhar comigo. Nem sempre tudo é um mar de rosas. Mas contribuir para a formação daqueles jovens brilhantes, saber que não vou passar em branco pela sua história de vida paga todo o trabalho e os obstáculos a serem transpostos.
Não há profissão mais bonita que a minha... Aos alunos que se vão, que iniciam uma nova etapa em suas vidas, boa sorte, e meus desejos sinceros de muito sucesso, sempre. Sei que vocês se darão bem na vida. Àqueles que ficam, espero que o ano que vem seja tão produtivo quanto o que passou. Para esses e também para aqueles que chegam agora,
MÃOS À OBRA, FOLKS!!!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A DESCOBERTA DO MUNDO

A alegria mansa Pois a hora escura, talvez a mais escura, em pleno dia, precedeu essa coisa que não quero sequer tentar definir. Em pleno dia era noite, e essa coisa que não quero ainda tentar definir é uma luz tranqüila dentro de mim, e a ela chamariam de alegria, alegria mansa. Estou um pouco desnorteada como se um coração me tivesse sido tirado, e em lugar dele estivesse agora a súbita ausência, uma ausência quase palpável do que era antes um órgão banhado da escuridão diurna da dor. Não estou sentindo nada. Mas é o contrário de um torpor. É um modo mais leve e mais silencioso de existir. Mas estou também inquieta. Eu estava organizada para me consolar da angústia e da dor. Mas como é que me consolo dessa simples e tranqüila alegria? É que não estou habituada a não precisar de consolo. A palavra consolo aconteceu sem eu sentir, e eu não notei, e quando fui procurá-la, ela já se havia transformado em carne e espírito, já não existia mais como pensamento. Vou então à janela, está chovendo muito. Por hábito estou procurando na chuva o que em outro momento me serviria de consolo. Mas não tenho dor a consolar. Ah, eu sei. Estou agora procurando na chuva uma alegria tão grande que se torne aguda, e que me ponha em contato com uma agudez que se pareça com a agudez da dor. Mas é inútil a procura. Estou à janela e só acontece isto: vejo com olhos benéficos a chuva, e a chuva me vê de acordo comigo. Estamos ocupadas ambas em fluir. Quanto durará esse meu estado? Percebo que, com essa pergunta, estou apalpando meu pulso para sentir onde estará o latejar dolorido de antes. E vejo que não há o latejar da dor. Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque está precisando de mim, e eu olho a chuva não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como a água da chuva está ligada à chuva. E eu não estou agradecendo nada. Não tivesse eu, logo depois de nascer, tomado involuntária e forçadamente o caminho que tomei - e teria sido sempre o que realmente estou sendo: uma camponesa que está num campo onde chove. Nem sequer agradecendo a Deus ou à natureza. A chuva também não agradece nada. Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Ela é uma chuva. Talvez seja isso que se poderia chamar de estar vivo. Não mais que isto, mas isto: vivo. E apenas vivo é uma alegria mansa.
Clarice Linspector

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Avesso Dos Ponteiros (Ana Carolina)

Sempre chega a hora da solidão Sempre chega a hora de arrumar o armário Sempre chega a hora do poeta a plêiade Sempre chega a hora em que o camelo tem sede O tempo passa e engraxa a gastura do sapato Na pressa a gente nem nota que a Lua muda de formato Pessoas passam por mim pra pegar o metrô Confundo a vida ser um longa-metragem O diretor segue seu destino de cortar as cenas E o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos E já não vai mais ao cinema Tudo passa e eu ainda ando pensando em você Tudo passa e eu ainda ando pensando em você Penso quando você partiu Assim... sem olhar pra trás Como um navio que vai ao longe E já nem se lembra do cais Os carros na minha frente vão indo E eu nunca sei pra onde Será que é lá que você se esconde? Tudo passa e eu ainda ando pensando em você Tudo passa e eu ainda ando pensando em você A idade aponta na falha dos cabelos Outro mês aponta na folha do calendário As senhoras vão trocando o vestuário As meninas viram a página do diário O tempo faz tudo valer a pena E nem o erro é desperdício Tudo cresce e o início Deixa de ser início E vai chegando ao meio Aí começo a pensar que nada tem fim...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Saudades

Foi-se. Chegou de repente, como um furacão, que não se espera, que não se sabe de onde ou a que veio. Da mesma forma foi embora. Arrebentou estruturas, demoliu construções. Me resta agora (re)configurar, (re)arranjar o que ficou, de forma a entender o acontecimento como parte da minha vida.
Saudades. De tudo. Sempre.
Mas a vida continua.
"As flores refletem bem o verdadeiro. Quem tenta possuir uma flor verá a sua beleza murchando. Mas quem olhar uma flor no campo permanecerá para sempre com ela. Você nunca será meu e por isso terei você para sempre". (Paulo Coelho)

domingo, 5 de outubro de 2008

Diálogos Fantásticos I

- Mamãe, eu vou à escolinha hoje?
- Não vai não, filha. Hoje é domingo, e aos domingos, ninguém vai à escola.
- Domingo? Quem deu esse nome?
- Quem deu o nome de domingo? (um momento de reflexão) Foram algumas pessoas que viveram há muitos anos atrás.
- Aaahh, e onde eles moram?
- Agora, eles moram com o papai do céu.
- E por que?
- Por que eles ficaram velhinhos, e cansados, e então, o papai do céu os levou para descansar junto dele.
- Eles viraram estrelinha?
- É isso mesmo, filha. Eles viraram estrelinhas.
- Acho que eu era estrelinha.
- É verdade. Você era uma estrelinha antes de vir para a barriga da mamãe.
- E por que eu vim?
- Por que a mamãe queria muito que você viesse.
- Eu também queria, mamãe. Ainda bem que eu vim, né? Assim, eu posso cuidar de você!
- ...

sábado, 4 de outubro de 2008

É Isso Aí

É isso aí
Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa
Quase sempre
É isso aí
Os passos vão pelas ruas
Ninguém reparou na lua
A vida sempre continua

Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei parar
De te olhar

É isso aí
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade
É isso aí
Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos a escolher seus amores

Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não vou parar de te olhar

(Ana Carolina)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Eterno Retorno

"O eterno retorno é uma idéia misteriosa de Nietzsche que, com ela, conseguiu dificultar a vida a não poucos filósofos: pensar que, um dia, tudo o que se viveu se há-de repetir outra vez e que essa repetição se há-de repetir ainda uma e outra vez, até ao infinito! Que significado terá este mito insensato?" (Milan Kundera - A Insustentável Leveza do Ser) "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida" (Vinícius de Moraes)
Pensei o dia todo sobre essas duas citações. A noite passada fui surpreendida com uma mensagem simples, porém muito direta em meu celular. "Se estiver acordada, me liga! Agora!" Trêmula, sem pensar muito sobre o assunto, obedeci à ordem. Havia anos que não recebia notícias. Não, não. Na verdade, havia anos que não recebia notícias até um reencontro que se deu há cerca de três meses. Foi uma ocasião cheia de emoção, tão contida que transbordava em cada um de nossos gestos e palavras. Não nos foi possível escondê-la. De ninguém. Achei que ficaríamos por aí. Um reencontro, muitos equívocos esclarecidos, a troca de carinhos. Não ficamos. Ontem, ao telefone, disse que estava por perto e queria me ver no dia seguinte. Não sei se minha vontade era a mesma. Mas aquiesci, uma vez tratar-se de uma pessoa tão importante na minha vida, que significou tanto por tanto tempo para mim. Não sei qual seu papel nela hoje em dia, e me reservo o direito de não pensar sobre o assunto. Tenho por princípio não aceitar pontos finais. Acredito sim que, como já dizia o poeta, a vida seja a arte do encontro, e do reencontro. E a própria vida, felizmente, me deu motivos para pensar assim. O eterno retorno ao qual se refere Nietzche é de uma magnitude reconfortante, apesar de Tereza, personagem de Milan Kundera no livro citado, considerá-lo um fardo pesadíssimo. Imagino que a leveza ou o peso do fardo depende de como as experiências são vivenciadas. Para mim, é muito importante saber que aquilo que vivi não se perde, e que sempre, em absolutamente todos os casos, há a possibilidade do resgate.
Ahhh... o (re)encontro? Não rolou... Ainda!!!! E que venha o fim de semana!!!