domingo, 28 de novembro de 2010

Valer a pena

No meu segundo dia de aula na escola que assumi este ano, tive aula no segundo ano do Ensino Médio, uma sala cheia de alunos barulhentos e enormes (literalmente enormes, minha mãe ficou pasma ao conhecer um deles outro dia). A sala possuía cerca de 4o alunos, e estavam tão acostumados a falar, que falavam ser perceber... Quando davam por si, estavam no maior papo como se fosse hora do intervalo. Entrei e foi assim que encontrei essa sala. Parei diante de todos aqueles alunos extremamente intimidadores (toda sala de aula é intimidadora no primeiro dia), me apresentei, fiz a chamada e comecei a aula. Com exceção de três ou quatro olhinhos mais atentos, os demais alunos naquela farra. Um desses olhinhos atentos era a Ana Flávia, que depois de alguns dias me contou que tinha muita dificuldade em "tradução", e que estava preocupada em não dar conta. Expliquei a ela que ela estava fazendo errado, que não tinha que traduzir, que aquele conjunto de letras e palavras e frases tinham que fazer sentido para ela. Foi então que inclui nas minhas aulas, algumas dicas sobre interpretação de texto, e a leitura obrigatória e resumo de um artigo de revista ou jornal em inglês por semana. E disse a aluna que ela só não daria conta se não quisesse. Que dizer "Eu não entendo" encerra o assunto e se torna uma justificativa e uma muleta para os fracassos. Quando você assume alguma dificuldade, este deveria ser o primeiro passo para superá-la. Mas a maioria das pessoas usa essa afirmação como a simples e suficiente justificativa para seu fracasso em determinados âmbitos da vida. Tá, é difícil, mas o que você vai fazer sobre isso? Já dizia Sartre que não importa o que a vida fez com você, importa o que você fez com o que a vida queria fazer com você.
Há algum tempo, soube que passei em um concurso da prefeitura. Essa semana assumo. E terei que deixar algumas aulas, inclusive as da sala dela. Hoje, ao chegar em casa, me deparei com uma mensagem que fez todo o meu esforço de um ano doido, vendo pouco a minha filha, comendo qualquer porcaria na rua, voando na estrada na velocidade máxima do meu Uninho, levando desaforo de alunos que não querem nada com nada; valer a pena. Pedi a ela para publicar aqui, ao que ela aquiesceu:

Teacher...
Gostaria de te agradecer por suas aulas esse ano e pelo seu apoio e dedicação.
Agradeço por sua paciencia comigo e por não ter desistido de dar aulas no segundo ano do XXX, como outros professores
Sem você concerteza eu não teria melhorado tanto em ingles, e gostaria que você soubesse que nunca vou esquecer tudo que aprendi com você.
Aprendi que não iria mudar a situação dizer ''não sei, não entendo'', entendi que eu precisava correr atras e em você encontrei apoio e uma professora que me auxiliou, e muito, nas minhas traduções de textos, que eram minha maior dificuldade
Teacher, eu gabaritei a prova de ingles da fuvest e com certeza foi por ter tido você como minha professora! Essa vitória não foi só minha hahahahaha
Obrigada, obrigada e obrigada.
Sem você eu não teria conseguido esse feito, que pra mim, uma aluna que sempre teve imensa dificuldade em ingles, foi algo extraordinario...
Não sei nem como te agradecer, mas saiba que agradeço a Deus por ter tido você como professora esse ano.
Espero que ano que vem eu continue te encontrando nas minhas manhãs, porque você é a melhor professora de ingles possivel, e além disso é uma pessoa muito querida!
Obrigada de novo
Beijos, Ana Flávia - 2º ano, XXX

Vou sentir saudades de você, Ana. Obrigada por não desistir de você mesma. I´m very proud of you!!!!

Diálogos Fantásticos VII

Tive que parar o que estava fazendo para registrar:

Sentadas as duas à mesa, eu corrigindo provas, a Vivi brincando com massinha, ela me pediu que eu fizesse um caracol bebê com a massinha dela. Terminado o caracol, ela me disse:

- Mamãe, esse é o caracol bebê mais bonito e mais perfeito do mundo.

- Obrigada, filha. Como você, quando nasceu.

- É, por que eu sou a menina mais linda de todo o mundo.

- E a mais modesta, também.

- O que é modesta, mamãe?

- É uma pessoa que não fica se vangloriando de suas qualidades, do que tem de bom.

- O que é vangloriar, mamãe?

- É ficar falando sobre si mesma, sobre suas qualidades. Uma pessoa modesta, pode até saber que é inteligente, mas sabe que as outras pessoas também têm outras qualidades legais e não fica dizendo que é a mais inteligente.

- Hummmm. Eu sou modesta, mamãe?

- Então. Não é nada modesta.

- Não tem problema. Já que eu sou a mais inteligente e a mais linda menina do mundo, eu não preciso ser modesta.

Antes disso, na piscina, eu estava brincando de boiar... Quando ela disse:

- Mamãe, você é uma ótima boiadeira.

- Por que, filha?

- Você bóia tão bem!!!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Spanish Guitar

A smoky room, a small caffe
They come to hear you play
And drink and dance the night away
I sit out in the crowd
And close my eyes
Dream you're mine
But you don't know
You don't even know that I am there

Chorus:
I wish that I was in your arms
Like that Spanish guitar
And you would play me through the night
'Til the dawn
I wish you hold me in your arms
Like that Spanish guitar
All night long, all night long
I'm be your song, I'd be your song

Steal my heart with every note you play
I pray you'll look my way
And hold me to your heart someday
I hope to be the one that you caress with tenderness
And you don't know
You don't even know that I exist

Chorus

Te sientas entre la gente
Cierras tu ojos
Y sueñas que soy tuyo
Pero yo no se ni siquiera que estas ahi
Me gustaria tenerte en mis brazos amor

I sit out in the crowd
And close my eyes
Dream you're mine
And you don't know
You don't even know that I exist

Apenas Mais Uma De Amor


Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito isso
De ser abstrato baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
E eu vou sobreviver...
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

quarta-feira, 30 de junho de 2010

DIÁLOGOS FANTÁSTICOS VI

Vitória pensativa fazia inalação enquanto eu escovava os dentes. Havia mais de uma semana que nós duas estávamos gripadas, e a babá no dia anterior, me comunicou ao telefone que não viria trabalhar por que estava também gripada. Respondi a ela, ao telefone:
- Nossa, você deve ter pegado gripe da gente.
E hoje, a pérola:
- Mamãe, a Mayara não pode ter pegado gripe da gente.
- Não, Vivi?
- Não, ela não pegou gripe nem de mim nem de você.
- Como você pode saber disso, filha?
- Ora essa, se nós duas ainda temos as nossas gripes... Ela deve ter pegado a de outra pessoa.

Claro!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A grama do vizinho




Há um certo há de queixume sem razões muito claras. Converso com pessoas que estão na meia-idade, todas com profissão, família e saúde e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?

Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: "Eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento”. Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha sido convidada. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são — ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.

As "festas em outros apartamentos" são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então, fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos para se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada - todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia e olha que na época em que ele escreveu estes versos, não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.

Nesta era de exaltação de celebridades — reais e inventadas — fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras, fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes, enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé?

Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas costumam acontecer dentro do nosso próprio apartamento.



Martha Medeiros